29 de jul. de 2009

Encadernação, Restauração e Conservação - O Papel


A escolha do papel utilizado para produção de documentos públicos é essencial para determinar sua resistência futura ao manuseio, bem como sua resistência à simples passagem do tempo.
Os mais resistentes e duráveis papéis já produzidos eram aqueles fabricados antes da grande revolução industrial, até por volta do fim do século l8. Era material obtido a partir de árvores nobres com adição de fibras de algodão à massa. O resultado era um papel forte e que jamais amarelava. Contudo, o papel simples de celulose ganhou espaço à força, graças a um estratagema mórbido. Num tempo em que as pragas, doenças e epidemias eram incontroláveis, difundiram o boato de que esses papéis eram fabricados com bandagens de hospitais. Ironicamente, hoje valorizamos o papel reciclado.
Muito mais barato e abundante, a difusão do papel de celulose foi otimizada pela própria decadência da qualidade do livro impresso, cada vez mais popularizado.
A acidez comum nesse material é resultado da condição do papel produzido da madeira, normalmente pinus e eucalipto, que contém lignina e resíduos dos ácidos empregados no clareamento das fibras de celulose, além de resíduos dos pontos usados no encolamento, a adição de cola à massa, durante o processo de fabricação. Não são apensas os resíduos de fabricação que tornam o papel ácido. As tintas ácidas também emprestam acidez ao papel, bem como a poeira e a própria gordura das mãos, a qual, em combinação com a humidade contida na atmosfera, absorve gases poluidores, formando pontos ácidos que dão origem às machas no papel. Essas manchas se propagam e destroem a fibra do papel, tornando-o quebradiço.
Os papéis brasileiros apresentam um índice de acidez elevado (pH 5 em média, quando o ponto de acidez neutra é 7 ) e portanto uma permanência duvidosa. Somemos ao elevado índice de acidez, o efeito das altas temperaturas predominante nos países tropicais e subtropicais e uma variação da umidade relativa, teremos um quadro bastante desfavorável na conservação de documentos em papel.
O pH varia de 0 a 14, sendo pH=7: neutro. A maioria dos papéis de uso são ácidos, o que acelera seu amarelamento e decomposição.
À medida em que o ácido do ambiente interfere no papel, o pH do mesmo começa a cair para menos de 7, tornando-se ácido e acelerando seu amarelamento.
Para papéis artísticos e principalmente para papéis destinados a documentos públicos, o pH neutro é fundamental para prolongar sua durabilidade.
Portanto, ao encomendar os papéis timbrados, exija que a acidez seja a mais neutra disponível, pois existem papéis com essa especificação.
Além disso, evite cores que sofrem mais com a exposição ao ar e à luz. São as cores entre o verde e o azul, obtidas a partir de pimentos minerais. As cores quentes, do amarelo ao marrom são normalmente obtidas de vegetais ou de óxidos, sendo mais resistentes e duradouras. A química das cores é matéria ampla e complexa, mas esses são os princípios mais básicos.
Na compra de papéis para impressora, invista naqueles mais próximos do pH Neutro. As marcas mais populares infelizmente são muito ácidas, pois são destinadas a uso escolar que não exige nenhuma durabilidade, ou para fins comerciais e contábeis e não são feitos para durar mais do que os cinco anos da prescrição nesses casos. É também lamentável que as encadernações comerciais estejam atualmente niveladas pelos livros fiscais, mas essa é outra história...
Os documentos públicos, por sua vez, não prescrevem.

27 de jul. de 2009

Livro para o Pó, de John Fante.


Parece que beatnik está na moda entre algumas pessoas, tanto que ressuscitaram Fante, aquele que nunca devia ser esquecido. Motivado pela curiosidade, fui comprar o livro dele "Pergunte ao Pó", perguntei na Livraria Curitiba do Estação, sentei um pouco para ler e gostei de cara da introdução de Charles Bukowski. Recomendador de primeira. Li um pouco do início e logo vi que era coisa de primeira qualidade. Parei de imediato. Leitura boa é para ler com calma e não no burburinho.

Decisão tomada, fui até o caixa. Inexorável, a moça pôs peço no prazer: R$.31,00 (TRINTA E UM REAIS).

Aí, acenderam-se as lamparinas de meu juízo.

"Trinta e um reais por essa publicação vagabunda! Capinha de papel mole sem orelhas! Folhas do mais barato e vagabundo papel de embrulho que a Editora José Olympio conseguiu comprar! Tão vulgar que já vem amarelado! Troço molemolente na mão da gente!"

Tende paciência! Gostei com certeza, tanto que não me dei conta do que tinha nas mãos. Mas, comprar um bom texto num livro péssimo e ter que testemunhar o pobre se deteriorando rapidamente perante meus olhos, ali na prateleira! Isso não!

Esse pova da editora, o que será que eles acham que a gente faz com livro? Lê escondido, envergonhado, depois vende a quilo no sebo? Lê e joga fora? Lê e recicla? Dá de presente sem ler e sem vergonha?

Gente, livro é para ler e guardar. Para emprestar a quem queremos bem! Para ler de novo daqui a dez anos! Para todo mundo aqui em casa poder ler e o livro ainda fica inteiro.

Cândido, ainda perguntei para a moça que pôs preço no prazer: Não tem uma outra edição melhorzinha? Mesmo mais cara? Tem não.

Não tinha. Não estou num país civilizado que edita livros em capa dura também, para quem tem uma estante onde guardar, que gosta de ter o livro para ao menos olhar as letras da lombada de vez em quando.

Se comprei? Não! Esse não! Vou procurar coisa de melhor qualidade, nem que leve tempo. E se você comprar, esconda quando chegar visita em sua casa.

25 de jul. de 2009

A Biblioteca Pública Fede!


A Biblioteca Pública Fede

Imagine um lugar onde voce possa encontrar os principais títulos publicados em cada categoria, oferecidos gratuitamente a qualquer pessoa. Imagine esse lugar oferecendo de obras de literatura e de diversão, na prosa e poesia, saciando o apetite por leitura de qualquer um.

Agora, imagine esse lugar FEDENDO!

O principal indício de que uma biblioteca, mesmo uma livraiada e até uma estante só. está com problemas, é o CHEIRO. Se cheira, é mofo. E mofo é o resultado de poeira e umidade. Pois LIVRO VELHO NÃO FEDE! Só cheira mal se estiver mal conservado.

Sou capaz de avaliar o estado de conservação dos livros só pelo cheiro.

Cheiro de xixi de aranha marrom, de ratos, de brocas, de cupins. Tudo isso só prospera quando a biblioteca está mal conservada.

Quando acumula poeira. Quando não é arejada. Quando está úmida. Quando está abandonada.

Qual a razão do FEDOR da Biblioteca Pública do Paraná?

Estamos em pleno verão, com muito calor e pouca chuva em Curitiba. Aliás, Curitiba é um bom lugar para livros.O clima é seco e fresco, as temperaturas são sempre amenas. Logo, o clima não é a razão.

Então qual o motivo do fedor da Biblioteca Pública do Paraná?

Falta de limpeza.

Pergunto: Quem está na direção desse lugar. Quem não está mandando fazer o trabalho. Quem está afastando os leitores. Quem iria levar para casa um livro fedorento para ler depois do banho, deitado na cama cheirosa, com aquele fedor de lixo no nariz. Pergunto.

Já o estado dos livros é lamentável. Rasgados. Capas soltas. Folhas soltas. Faltando trechos. Sujos.

Quem está deixando a Biblioteca Pública do Paraná virar um lixo?

QUAL A SOLUÇÃO?

Pois uma solução é urgente!

Como em qualquer área do serviço público, a solução está no trabalho de pessoas VOCACIONADAS.

Gente motivada por interesses altruistas, para os quais uma Biblioteca seja um templo e não um emprego e, no mínimo gostem de ler. Acredito nas boas intenções das pessoas e que o erro é algo humano, inevitável e previsível, mas é preciso reconhecer o que está acontecendo de errado e corrigir. Sé é falta de limpeza, é preciso arranjar pessoal e produtos de limpeza, treinar uns no uso de outros e limpar ambientes e livros. Se é umidade é preciso arejar as salas, climatizar, afastar os livros das paredes, verificar infiltrações e goteiras. Se éfalta de conhecimento, é preciso encontrar pessoas capazes e entendidas no assunto para tomar as providências necessárias. Mas algo precisa ser feito.

23 de jul. de 2009

Encadernando folhas soltas

Verificando a quantidade de buscas e procura de informações por e.mail sobre a encadernação de folhas soltas, na verdade uma BLOCAGEM, ofereço um método simples mas eficaz que pode ser adotado por qualquer pessoa sem utilizar nenhum equipamento ou material especial. Aliás, em minha atividade, além das ferramentas usuais, como régua, estilete, espátula, serra e pincel, uso apenas uma prensa pequena.
Adicione mais duas folhas em branco no começo e no fim das folhas que vai encadernar.
Bata as folhas pela cabeça (alto da folha) e pelo lado direito, até que essas áreas fiquem sem ressaltos, deixando as diferenças no pé (parte de baixo da folha) e no lado esquerdo. Acerte o conjunto com o lado de uma régua para que fique simétrico e reto.
Prenda as folhas entre duas tábuas ou dois papelões, prendendo com um peso ou livros pesados, deixando cerca de um centímetro do lado esquerdo para fora das tábuas. Ponha esse lado num local fácil para serrotar, como a borda de uma mesa.
Serrote as folhas usando uma serra para metal ou mesmo uma faca de pão, usando o seguinte padrão de corte: Dois cortes inclinados para o centro do livro ì / nas pontas, um corte central e mais dois cortes todos eqüidistantes e com o máximo de meio centímetro de profundidade.
. ì ↓ ↓ ↑ ↓ ↓ ↓ / .⁄⁄
Com as folhas ainda presas, amarre. Comece deixando uma ponta do fio no corte central, passe o fio pelo corte ao lado, depois pelo próximo e pelo da ponta, volte com o fio, repassando pelo corte ao lado, pelo próximo e passe direto por cima da ponta deixada no centro. Passe pelo corte ao lado, pelo seguinte e pelo da ponta, voltando com o fio pelos cortes e dessa vez acabando no corte central. Aí você tem a ponta inicial sob o fio que passou por ela e a ponta final. Amarre as duas pontas com o fio no meio.
Para garantir pode passar cola branca antes e depois de passar o fio e mesmo passar o fio mais de uma vez. O fio pode ser o de algodão tipo urso ou um barbante forte.
Ponha uma folha de guarda no começo e no fim do livro (é uma folha dupla) e cole a parte da dobra da folha dupla bem sobre os fios da amarração. Cole essa LOMBADA - o lado esquerdo do livro que você amarrou - com um pedaço de papel resistente, que pode ser o kraft fino usado em pacotes de papel e alguns envelopes, na medida da altura da lombada e de largura para passar uns cinco centímetros sobre as folhas de guarda.
Seu miolo do livro está pronto. Para a capa, pode usar chapas de papelão cobertos com papel colorido ou o usual vulcapel. Ou cobrir o miolo assim como está com tecido ou papel cartão. Use criatividade. Costumo dizer que o importante é a qualidade do miolo do livro e que a capa é só perfumaria.
Sem tempo para fotografar passo a passo do processo, espero que tenha conseguido me fazer compreeder.

Procedimentos Iniciais no Restauro de Livros Oficiais


É um livro relativamente novo, utilizado para Registro de Nascimento entre os anos de 1961 e 1962.

Constituído de material precário, produto da incipiente indústria brasileira de papel, ainda sem a saudável presença de concorrência local, resultando em papel de massa porosa de má qualidade, apresentando elevado índice de evaporação.

Nos primeiros anos de fabricação do papel nacional, apesar da utilização de árvores nobres retiradas da Floresta Atlântica e das extensas florestas do interior do Sul do País, o processo de industrialização era tosco e econômico, usando-se cola inferior para constituir a massa e equipamentos ineficientes de prensagem. Até hoje, a indústria local de papel não atingiu o grau de perfeição dos livros produzidos na Europa no início do século 20. Os mesmos livros de origem estrangeira até então utilizados pelos cartórios, asseguram muito mais longevidade e qualidade, com as folhas ainda flexíveis e sedosas, resistindo bravamente às variações de temperatura e umidade, com mínima oxidação e evaporação.

O livro é de 300 folhas, medindo 0,45 cm de altura por 0,33 cm de largura, apresentando encadernação não original em capas de papelão cinza cobertos por vulcapel. Separado o miolo da capa, revela que o livro houve pelo menos uma intervenção anterior. Nela, foi acrescentada mais cola à lombada, sobre os rasgões e sobre a costura original, sem que o livro tivesse passado pelo mínimo reparo. Dessa forma, a cola penetrou mais profundamente ainda nos rasgões causados pelo uso contínuo, entranhando-se até a terceira ou quarta folha de cada caderno e pelos orifícios da costura. O livro ainda foi desnecessariamente refilado, ou seja, guilhotinado em cerca de 0,05 cm em cada lado, com perda de parte da numeração e até de parte das anotações manuscritas.

A primeira atitude é retirar o excesso de cola da lombada, junto com os fragmentos de cadarço originais e os fios da costura, também original, que foram deixados na interferência anterior. Em seguida separar com cuidado cada um dos cadernos, observando a numeração para não rasgar desnecessariamente as primeiras folhas de cada um.

Tomar maior precaução com o primeiro e o último caderno, que apresentam folhas fragmentadas e sanfonadas, seja por estarem em contato direto com a única folha de guarda em branco, seja pelo uso de fita tipo durex para reparo de rasgões, o que causou oxidação e endurecimento das fibras do papel. É necessário retirar o durex mais antigo, que se solta facilmente e tentar retirar os mais recentes desde que não comprometam as anotações oficiais. Se houver perda de texto, é preferível deixar o durex recente, pois irá se soltar em curto prazo, apesar de prejudicar bastante o papel.

Separados os cadernos, retirar deles qualquer elemento estranho, como anotações antigas e objetos, limpando com pincel macio as sujidades normalmente encontradas nesses livros, como resquícios de borracha de apagar, fungos, poeira e pelotes de cola.

Limpo e preparado, o miolo do livro está pronto para que se inicie o trabalho de conserto dos rasgões e reforço das dobras.

As ilustrações são, obviamente, de um livro antigo de outra natureza.

O maior trabalho nesse primeiro estágio, é causado pela infeliz interferência anterior, que muito contribuiu para o estado de deterioração atual do livro, que não resistiu ao próprio peso e o miolo se encontrava apoiado diretamente a sobre a prateleira, com deterioração e deformação de todo o canto inferior das folhas.

Um trabalho feito sem conhecimento, sem nenhum respeito pelo documento oficial e sem nenhum compromisso com a qualidade, dificulta ainda mais o trabalho posterior e, por incrível que pareça, pode até custar mais.

16 de jul. de 2009

Arte Gráfica Pobre Arte


Trezentos anos depois de Gutemberg e sua pobre máquina de imprimir produzirem a fabulosa "Bíblia de 42 linhas", as artes gráficas estão em colapso. 
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Evoluíram para o nivelamento pelo mínimo, desde 1801 com a máquina a vapor para imprimir, em 1814 com o Times londrino adotando o sistema e o papel contínuo e em 1864 a impressão a duas cores.
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As revoluções mecânicas precedem as revoluções políticas e resultam na difusão de quaisquer idéias, os esforços para um renascimento espiritual são sufocados pela dialética marxista, que exalta a força e o império da máquina, idealizando que o homem seja livre, criativo e completo apenas na medida em que produz.
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O mecanicismo quer ganhar tempo. Prega que o feio pode ser belo (pois é mais fácil fazer o feio) desde que seja útil. Milhões de exemplares impressos para satisfazer a gula por leitura fácil, somem as margens dos livros para jogar fora e rebarbas que sobram por todos os lados. Se o autor é popular, as letras são enormes, os parágrafos são curtos e a distância entre as linhas é imoral. Está perdida a profundidade pela extensão.
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De vez em quando, aparecem edições cuidadas e livros bem feitos. Contudo, atrás desse aparente ressurgimento gráfico se esconde a serpente da vaidade bibliofílica do novo rico, constituindo um nova indústria sem finalidade cultural: esses livros de curta tiragem, de exemplar intonso e único, brazonado, carimbado, numerado e assinado que atingirá preços artificiais fabulosos. A impressão sobre papel colorido especialmente fabricado, com tipos pretensiosos e tintas ecológicas, produz por imitação livros intocáveis, protegidos por caixas de seda, como burgueses em seus caixões e reis em seus sarcófagos. São as edições dos Amantes do Livro, dos Bibliófilos Daqui e de Acolá, que os herdeiros oferecerão aos sebos de luxo na primeira oportunidade.
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Nenhum livro se salva nesse caos em que nasceram os gráficos, cuja habilidade mecânica se encontra em flagrante contradição com o sentido artístico que uma verdadeira obra de arte merece.
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Como um excelente obra literária pode ser um péssimo livro

Estou lendo "Um Campo Vasto" - Ein Weites Feld - de Gunther Grass e na perfeita tradução de Lya Luft. Um livro ótimo, apesar de exigir um bom conhecimento de detalhes da cultura germânica e conhecer Berlin como a palma da mão. Através de personagens cativantes, nos presenteia com um retrato cultural, político, econômico e social da Alemanha durante a derrubada do Muro de Berlin. 

A obra literária é muito boa e não está em questão. O problema é o livro.

Tem 616 páginas, ou 308 folhas, impresso em papel Pólen Soft 80 g/m2,  pela Divisão Gráfica da Distribuidora Record.

Essas 308 folhas não são compostas de cadernos costurados e unidos por cola, mas são FOLHAS SOLTAS simplesmente coladas, ocorrendo que o livro quebrou na página 214, apesar de todo meu cuidado em chegar ao fim da leitura e ainda ter um livro intacto.

É um péssimo livro que não resiste à primeira leitura pois foi fabricado por uma indústria gráfica que não tem qualquer compromisso com a qualidade. Uma obra dessa magnitude é para ser guardada com carinho por muitos anos e lida por muitas pessoas e até mais de uma vez. Um clássico mal feito que se desfaz em nossas mãos.

Um péssimo exemplo da indústria gráfica nacional.

11 de jul. de 2009

A Arte Negra



A ARTE NEGRA
♦ Durante a Idade Média no início da utilização de tipos móveis na impressão de livros, a atividade gráfica foi chamada de “Arte Negra”.
♦ Por conclusão da ignorância, ou seja, quando a imensa maioria de analfabetos concluía que aquelas manchas no papel tinham poderes mágicos, pois alguns iniciados olhavam para elas e de sua boca brotavam histórias, poesias e ciências cujas maravilhas e revelações não tinham fim. E entre esses analfabetos estavam reis e nobres, ricos comerciantes e poderosos generais, estando a leitura restrita a um reduzido número de clérigos.
Ler era poder e essa força tornava os leitores homens temíveis, donos de uma ciência certamente utilizada muitas vezes para obter riqueza e prazer, logo uma “Arte Negra”.
♦ Um dos inventores do processo mecânico de fazer livros foi Fust. Em 1462 foi a Paris para vender seus livros impressos, fazendo crer que se tratavam de livros manuscritos. Já nessa época os livros impressos tinham menor valor. A corporação de calígrafos franceses denunciou a farsa, movendo processo contra Fust, pois como podiam os livros ser manuscritos se apresentavam os mesmos erros nas mesmas letras, nas mesmas palavras, nas mesmas linhas e nas mesmas páginas de cada exemplar examinado. Fust não admitiu o crime e preferiu manter segredo sobre o processo de impressão mecânica, sendo acusado de manter contato com as artes diabólicas e que o vermelho dos detalhes era sangue humano. Foi condenado à morte, mas recebeu ajuda do Rei Luis XI para fugir da prisão em segredo. Sua fuga foi atribuída ao Diabo que com ele tinha um pacto. Fust, Fusto ou Fausto vendeu sua alma ao Diabo.
A lenda tomou corpo, conectando-se com um Joahan Fausto, necromanta de Witemberg que recebeu existência literária através do gênio de Goethe.
♦ Por outro lado, o restrito círculo de letrados capazes de decifrar os caracteres misteriosos, e poderosas ordens de copistas e calígrafos alimentava essa superstição, resistindo à vulgarização dos livros impressos em quantidade. Protestam que essa é uma "arte negra" que tem como principal capitalista o Diabo, pois o Diabo é mecanicista e vulgarizador. O novo processo é uma "ars diabolica".
♦ No meio dessa desinformação, os gráficos. Trabalhadores numa arte nova, tão criativos que eram capazes de utilizar uma prensa de moer bagaço de uva, onde reuniam caracteres pacientemente talhados em madeira por artesões, pincelados com tinta vinda de Nanquim - nanopartículas de carvão de bambu estabilizadas com goma arábica - para prensarem sobre uma folha de pergaminho. Adaptando materiais e ferramentas, com as mãos nuas, errando e acertando, para emergir de suas oficinas negros de tinta. Os artistas da “Arte Negra”.
Mas o avanço das artes gráficas sobre a Europa é generalizado, não restando cidade que enfim não possua uma prensa. A "Arte Negra" deixou de ser segredo e perdeu sua magia.

8 de jul. de 2009

DIGITALIZAR LIVROS E DOCUMENTOS - CUIDADOS.

Procurado por um encadernador de cópias xerox, pediu preço para "um monte de livros que um amigo estava digitalizando".

Que tinha que desmontar os livros para fazer o serviço, querendo saber quanto eu cobrava para fazer as encadernações com a minha qualidade.

Cheirou a malandragem, de cara.

Pensei comigo: algum pobre homem está preocupado com o conteúdo de seus livros e está digitalizando, talvez um juiz ou oficial de cartório ou museólogo, difícil saber. Querendo preservar com qualidade, está penando nas mãos de pessoas que não tem a menor capacidade de fazer um trabalho de qualidade e só estão interessados em faturar em cima.

Dei o meu preço exato e certo, para livros formato ofício, com cerca de trezentas folhas cada, com espelhos de tela, lombada e cantos de couro e uma boa restauração do miolo, seja costurado ou amarrado. Dei o preço, sabendo que nunca mais ia ouvir falar do assunto.

E não foi diferente do que pensei. Infelizmente.

Algum cavalheiro está recebendo um trabalho inadequado por seu dinheiro.

Afirmo sem ver!

Digitalizar documentos e livros é louvável ou lamentável, depende do uso que se vai dar ao material. Agora, DESTRUIR AS ENCADERNAÇÕES NO PROCESSO, é sempre desaconselhável. O ideal seria desmontar com técnica, preservando as capas das obras ou mantendo as encadernações originais o máximo possível. Se não é possível preservar e em última instância, fazer a nova encadernação de forma que dialogue com o conteúdo do livro, o tema e a época em que foi feito. Se isso não acontecer, uma importante obra pode ter sido mutilada e perdido todo seu valor bibliográfico. Além disso, provavelmente, a encadernação que substituiu a antiga é uma mera encadernação bastarda feita a baixo custo, com técnica e material inferior, provavelmente usando guilhotina para refilar os lados dos livros, apressando a deterioração irreversível do material, que antes da digitalização estava muito bem, obrigado.

Permanece a máxima até hoje inquestionável:

CADA UM TEM O LIVRO QUE MERECE!

Monotipia e Marmorização


♣ A boa técnica da marmorização consiste em dispor uma larga superfície de água, seja numa bacia ou num plástico sobre quatro ripas de madeira do tamanho desejado, jogando sobre sua superfície tinta a óleo, tinta esmalte ou qualquer outra diluída por solvente ou querosene, misturando levemente até obter o efeito desejado e aplicar uma folha de papel. Cuidar para que não fiquem bolhas, batendo levemente sobre a folha ou usando tinta bem diluída, retirar a folha sem virar, deixar a água escorrer, virar e por o papel para secar. O princípio é simples, como qualquer boa técnica.

♣ Outros detalhes podem ser acrescentados para obter diferentes efeitos. Por exemplo, utilizando tintas diluídas com querosene, tiner ou aguarraz para que se misturem menos; usando tintas bem diluídas ou puras para obter texturas diferentes; misturando com um pau, soprando, "penteando" com um pente de dentes bem espaçados ou de agulhas; espessando a água com maisena para controlar o movimento das tintas; adicionando detergente à água para obter pequenos pontos de tinta. Ás vezes, até o vento soprando sobre a superfície da tinta, espalhando-a com delicadeza, forma uma textura suave e dá um efeito bonito.

♣ Se as primeiras ficarem estranhas, tente mais, invente mais. Para obter um efeito pré-determinado, erra cinco. Qualquer que seja o resultado, é sempre aproveitável para alguma finalidade. Nunca fiz uma folha que não fosse possível usar em algum livro. É claro que algumas ficam estranhas, outras ficam tão perfeitas que dá dó utilizar. Mas cada uma tem seu valor.


♣ Um PULO DO GATO: com a tinta quase seca, espalhe TALCO e esfregue com um pano macio com força em círculos, para suavizar os excessos e preencher os vazios.

♣ Uma variação da marmorização em papel que tenho utilizado com sucesso, é a marmorização sobre tela. Faço o tecido com tinta vinil ou latex da forma usual e marmorizo nela, resultando um material perfeito para ser utilizado como “espelho” da capa, ou seja, aquela parte externa do livro entre os cantos e a lombada. Para livros grandes ou que serão muito manuseados, é material resistente e bonito.

♣ Agora, qual a finalidade do papel marmorizado. Sabemos sua função estética, mas qual seria sua utilidade prática?

♣ Uma: forma barreira natural contra traça, brocas e cupins, pragas que não devem gostar de comer tinta. Outra: impede que a primeira folha do livro, a "folha de guarda", sanfone ou engruvinhe, pois reforça o papel. E mais: esconde imperfeições de prensa, espátula, cola e qualquer outra resultante do trabalho do encadernador.

♣ A mais importante FUNÇÃO PRÁTICA do papel marmorizado nas guardas do livro é PROTEGER as folhas da ACIDEZ do papelão e da cola da capa. Se for usado papel em branco, as primeiras folhas do livro vão ficar amareladas, manchadas ou escurecidas.

O uso de substâncias exóticas, como carragenano, espessante para a água, permite o uso de tintas leves à base de água como guaches e até aquarelas. Mas essas tintas à base de água não garantem impermeabilidade e NÃO PROTEGEM as primeiras folhas do livro contra a ACIDEZ do papelão e da cola usada nas capas. É uma técnica muito usada na escola decorativa de encadernação, bastante difundida atualmente. Os resultados obtidos são quase figurativos, com efeitos que podem ser repetidos e não parecem MÁRMORE, como sugere a denominação da técnica em portugues e espanho. Creio que esses efeitos deveriam ser donominados monotipias ou gravuras decorativas em papel.


Seja o papier marble na Fraça, o marmoleado ou o papel al engrudo em espanhol, sua função prática deve estar acima dos efeitos decorativos, contudo sempre harmonizados com a estética da época em que o livro foi impresso e com seu conteúdo.

♣ Estava dando uma oficina no Centro de Criatividade do São Lourenço, quando o presidente da Fundação Cultural de Curitiba fez uma visita surpresa. Foi direto para o monte de papel marmorizado que estávamos fazendo e, antes de tocar nele, disse: "agora estão usando mármore para cortar o papel...?"

♣ Não pretendo que minhas marmorizações sejam gravuras, esse status fica para quem procura resultados artísticos, mas papel para usar em escala razoável no meu artesanato.



Suminagashi - Técnica com efeito figurativo, japonesa.

Monotipia clássica e belíssima, por Wagner Campelo


Minhas monotipias, óleo sobre papel 66X96 cm




Monotipias óleo sobre tela secando ao sol




Six, Monotipia estranha