30 de mar. de 2012

O Mundo Reciclado

Houve uma época na história econômica da humanidade denominada de “Revolução Industrial”, quando as primeiras inovações técnológicas surgiram como resposta à crescente demanda por bens e serviços.

O pequeno tecelão fiava algumas peças de roupa por mês, mas as pessoas queriam comprar mais. Então vieram as máquinas de fiar, movidas a força humana e depois a vapor e depois pela eletricidade.

Na indústria livreira, os livros eram produzidos para poucos, manuscritos ou impressos com estampas fixas. No início do processo de industrialização do livro, com a utilização de tipos móveis, ospapéis eram feitos com tecido de algodão ou seda. O resultado era folhas resistentes, que não amarelavam ou rasgavam. Sobrevivem livros dessa época até hoje, apresentando-se completamente brancos e íntegros, invulneráveis a pragas.

Livros populares começaram a surgir. Eram baratos, feitos de massa de celulose. Apesar de feitos de massa de madeiras nobres ainda abundantes e baratas obtidas nas florestas da África e das Américas, não conseguiam cativar a atenção da classe burguesa emergente.

Mundo antigo e mais vulnerável às doenças, foi seduzido por uma mentira. Surgiu o boato de que os bons e resistentes livros feitos com fibras de tecido eram feitos a partir de… BANDAGENS USADAS DOS HOSPITAIS!

O resultado foi imediato, acabando com os papéis de tecido e abrindo espaço para os livros de celulose.



Hoje em dia, há uma glamurização do papel reciclado. Pessoas de bom gosto escolhem e pagam mais caro por papéis com cara de artesanal, feitos sabe-se lá do que.

Meus livros só foram árvore. Meus couros só foram cabra e boi. Não reciclo, reaproveito.

Nessa sociedade consumista, fabrica-se com duração programada. Steve Jobs foi o grande profeta do deus Obsolescência Programada.



Celulares e câmeras são fabricadas com pré-determinado número de ligações e fotos. Se acabou, não tem conserto.

Todo ano troca de agenda, de livros didáticos, de vade-mecuns e outros livros jurídicos efêmeros e cadernos escolares abandonados pela metade.

Não recicle, reaproveite para sempre, use até o final.

22 de mar. de 2012

Santa Wiborada, santa dos encadernadores

◊Lido “A Galáxia de Gutemberg”, de Marshall McLuhan, ficaram algumas curiosidades sobre livros em geral. Uma que me lembro com estranheza é que pessoas que lêem muito ficam com dor de garganta, pois os músculos involuntários da garganta se movimentam como se estivéssemos recitando.

◊Explica que até lá pelo século XIV a leitura era apenas em voz alta. Os livros eram escritos para serem recitados, com regras, ou ausência das regras de pontuação, então vigentes que respeitavam a respiração do orador, a salivação e a entonação apropriada. Por isso os monges se isolavam em celas: para fazer suas leituras sem atrapalhar o próximo. Com o advento da vulgarização da leitura, veio a “leitura silenciosa”, quando as pessoas passaram a ler para si mesmas. Nos anos sessenta, ainda era assim que as professoras se referiam ao ato de cada um ler suas lições em sala de aula.

◊Curiosidades sobre livros, como essas, servem para aprimorar nossos conhecimentos, pois, após a Educação vem a Sofisticação, ou seja, o refinamento, a sintonia fina que diferencia das pessoas educadas em massa.

◊Um livro cheio dessas extraordinárias informações diferenciadoras, com pérolas preciosas de deliciosa cultura é o “Historia General del Libro Impreso” de Rosarivo, feito para um congresso de indústria gráfica da Argentina em 1964, que está escrito assim na folha inicial: “M.DCCCCLXIIII”, o que não constitui um erro, como a princípio julguei, mas uma forma especial de escrever em caracteres romanos, comum em livros do século XIV.

◊Introduz com a história da padroeira dos encadernadores e, por extensão, dos bibliófilos: Santa Wiborada.

◊Era Bibliotecária do Monastério de Saint Gall, segundo alguns, ou monja que trabalhava nas oficinas de encadernação, segundo outros e mais provável, enfrentava a ameaça de bárbaros que marchavam sobre a cidade e iriam passar sobre o monastério saqueando e queimando, até encontrar as muralhas da cidade. Os monges já estavam fugindo aterrorizados, mas ela os convenceu a esconder as obras, enterrando-as nas valas defensivas da cidade. Passaram aquele dia 1 de maio de 925 e a noite que o seguiu pondo os preciosos manuscritos em local seguro. Os bárbaros húngaros chegaram, arrasaram o monastério e avançaram sobre a cidade fortificada. Após três dias de luta sangrenta, foram repelidos. Foram encontrar Wiborada mutilada e morta, jazendo sobre o local onde haviam enterrado os seus preciosos livros.

◊Depois de penar para encontrar referências sobre ela, pedi ajuda ao sítio Cadê meu Santo e esses caras absolutamente rápidos e prestativos me mandaram texto e foto, com preciosas informações. Confirmaram o nome, que pensei de início ser uma argentinização, era também chamada Guiborath e/ou Weibrath. Que era encadernadora e profetiza, sendo atribuído a ela profecia sobre a chegada dos bárbaros húngaros. Um de seus atos piedosos foi transformar sua casa num hospital para os pobres e ido servir a Deus num monastério. Sites oficiais confirmam sua martirização.


Foi a primeira mulher a ser canonizada pela igreja católica e isso ainda em 1.047. Seu dia é o 2 de Maio e é representada como uma freira beneditina segurando um livro e um machado.

◊Mulher de valor e santa guerreira, já praticava lutar pelo livro.


 ◊Que por todos nós interceda!