4 de dez. de 2016

Livros Oficiais, Documentos Públicos Preservados

A cidade de Jaguarão - RS fica a 1.120 km daqui, mas a distância não é obstáculo. Estes livros estavam completamente tomados por pragas ainda vivas e atuantes, as costuras estavam podres e as capas não existiam mais. Cada uma das folhas precisaram de algum reparo ou emenda, muito quebradiças e com fungos.

Parte de um lote de 20 livros, dos piores do acervo, estou absolutamente certo de que nenhum outro encadernador seria capaz de um trabalho desta qualidade.

Quanto ao titular do Cartório, merece das autoridades pelo menos uma menção honrosa pelo trabalho e custos que está tendo para recuperar o acervo da cidade, pois em cada um destes livros está a história dinâmica daquele povo.

Não apenas este ser humano de alto nível de responsabilidade, mas todos os outros que também enfrentam distâncias, custos de correio, relutância de corregedores, falta de informação e ainda assim preservam e dão condições dignas ao acervo de livros e documentos sob sua égide.

A todos de minha lista de clientes o meu reconhecimento pelo heroísmo.

Como estavam as capas, devoradas por pragas,
o dano se estendia a boa parte das primeiras e últimas folhas
O principal atrativo deste material é a cola orgânica (gelatina), usada antigamente.




Alguns livros já terminados.








8 de nov. de 2016

Carta ao J. D. Salinger

Carta pro J. D. Salinger

Caro Jerry Salinger


Como sei que você continua antenado com o que acontece em seu nome pelo Mundo, vou mandar pro astral da internet um recado prá voce ler.


Fique de boa. Não vou encher muito seu saco, cujo saco todo mundo sabe já encheu faz tempo.


Andam dizendo por aqui que você foi importante demais por ter sido o primeiro a por no papel impresso a voz da juventude  norteamericana. E isso é só o que falam de bom.


Dizem também que voce era um pedófilo sofisticado e que inspirou meia dúzia de mass murder. Que A Guerra te deixou tão travado na adolescência que nunca amadureceu e se tornou homem. Que nunca mais escreveu nada de bom e que, na melhor  das hipóteses, tinha uns parafusos de menos na cabeça.


Não vou dizer que te entendo. Mas, se no seu tempo já era difícil ser um INDIVÍDUO, voce não imagina o quanto hoje isso é impossível, penoso e tudo mais.


Aqui tá foda!


Andei pensando em voce ao dar uma  encadernada no The Catcher in the Rye.


Tenho o livrinho faz tempo e tava bem baleado. Aí juntei mais umas informações, dei uma consertada e encadernei.


Me deu a idéia de fazer a capa com um couro preto para representar o abismo e outro couro claro amarelinho para o campo de centeio, entende?


Para a ilustração, fiz aqueles bonequinhos de papel de mãos dadas, conhece?  Cortei em papel grosso e prensei no couro claro ainda úmido de cola. O negócio é para ficar parecendo um bando de crianças à beira do abismo. Ficou mais ou menos.


Fico pensando que é o que acontece hoje aqui: A gente indo pro buraco todo mundo junto, ainda cantando alguma musiquinha meio besta, de mão dada e tudo.


Tá bom! Gosto mais da metáfora do abismo como lugar onde sacrificamos nossa inocência e Holden nos socorre se tivermos sorte.


Agora o título.


“O Apanhador no Campo de Centeio”, prá mim, é uma merda de título apesar de voce ter aprovado, dizem. Mas é melhor do que no português de Portugal: “Agulha no Palheiro”. E muito melhor do que a proposta dos tradutores brasileiros “A Sentinela do Abismo”, bem no estilo pomposo-meloso que todo mundo curte por aqui.


Então mandei ver só “THE CATCHER”.


O livro é meu, o trabalho é meu. Mas te dou essa satisfação,  se por via das dúvidas voce ainda estiver de olho nas coisas por aqui.

Fique na tua aí.

Seu admirador,


Pedro Malanski


Fotos  da encadernação 


Folha de Guarda com marcador do mesmo papel


Capa da segunda edição brasileira


Capa da edição especial em capa dura


Foto da contracapa das primeiras edições americanas
mandou retirar das seguintes 


Última foto conhecida de Salinger, em 2008




E É ISSO.

Frases de J. D. Salinger

It was that kind of a crazy afternoon, terrifically cold, and no sun out or anything, and you felt like you were disappearing every time you crossed a road.

I used to think she was quite intelligent , in my stupidity. The reason I did was because she knew quite a lot about the theater and plays and literature and all that stuff. If somebody knows quite a lot about all those things, it takes you quite a while to find out whether they're really stupid or not.

Pomba, só porque uma pessoa morreu não quer dizer que a gente tem que deixar de gostar dela... Principalmente se era mil vezes melhor do que as pessoas que a gente conhece e que estão vivas e tudo.

As pessoas sempre batem palmas pelas coisas erradas.

O homem imaturo é aquele que quer morrer gloriosamente por uma causa. O homem maduro contenta-se em viver humildemente por ela.

Trecho final de "Um dia Perfeito para um Peixe Banana"

"If you want to look at my feet, say so," said the young man. "But don't be a God-damned sneak about it."
"Let me out of here, please," the woman said quickly to the girl operating the car.
The car doors opened and the woman got out without looking back.
"I have two normal feet and I can't see the slightest Goddamned reason why anybody should stare at them," said the young man. "Five, please." He took his room key out of his robe pocket.
He got off at the fifth floor, walked down the hall, and let himself into 507. The room smelled of new calfskin luggage and nail-lacquer remover.
He glanced at the girl lying asleep on one of the twin beds. Then he went over to one of the pieces of luggage, opened it, and from under a pile of shorts and undershirts he took out an Ortgies calibre 7.65 automatic. He released the magazine, looked at it, then reinserted it. He cocked the piece. Then he went over and sat down on the unoccupied twin bed, looked at the girl, aimed the pistol, and fired a bullet through his right temple.
J. D. Salinger

18 de out. de 2016

A sombra de Peter Pan

Fiz esta encadernação com o tema Clássicos Disney e escolhi ilustrar com o personagem mais intrigante. A sombra de Peter Pan.

Uma metáfora da esquizofrenia de todos nós, luta bem a propósito do menino que não queria crescer, tornar-se finalmente adulto.

Infelizmente o miolo do livro é feito de folhas soltas - uma blocagem - não sendo possível obter efeito mais arredondado na lombada.

Toda em couros de diversas texturas e cores, com aplicação da sombra em couro sobre couro, no estilo mais "artístico" que clássico.







FRASES DE PETER PAN

“Pensamentos felizes fazem a gente voar.”

"Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar... Amavam-se, mas ele não queria crescer..."


27 de jun. de 2016

Fazendo Livros

Nesta semana, fiz estes livros.

Todos são para Cartórios.
Semana de trabalho intenso.

Um deles, o maior, para um registro de imóveis daqui do interior do Paraná.

Outros, para uma cidade a uns 1,200 km de Curitiba, parte de um trabalho com 60 livros que me foram confiados para recuperação, restauro e encadernação, abrangendo livros de 1876 em diante.

Mais alguns, para um dos primeiros cartórios de registro civil de Curitiba, compreendendo livros em couro e tela e livros em vulcapel.

Poucos livros, mas que deram bastante mão de obra de reparações.

Semana normal, de trabalho intenso.



6 de jan. de 2016

O Acaso e o Vento

O Acaso e o Vento, uma Aventura Monocromática

Técnica: Monotipia ou Marmorização
Materiais: Água pura, Tinta Esmalte Sintético puro, Papel Sulfite 120 gramas formato 66 x 96 cm.
Acabamento: Talco



Vento

Animais

Dançarinos

Acasos

Vento Indomável

Dor
O Nada


Deltas e Rios

Cisnes

Acasos?

Vagando

Suave

O Erro, escapa dos dedos, cai em caos.
Mas vejo céus revoltos, montanhas e rios, cercas e pessoas no entardecer.

Quase o Padrão da forma e do coisa alguma e tudo. 

O Claro/Escuro  

Padrão de ser no meio do mesmo.

Para ser parte de um livro um dia, todos eles.

Um detalhe, apenas.

Todo começo é o início de um fim.